LÍNGUA PORTUGUESA: ENTRE A NECESSIDADE E O ÓDIO
Por Maria José da Silva
É comum ouvir os alunos dizerem que detestam Língua Portuguesa. Quando isto acontece, fico me perguntando como alguém pode detestar a própria língua. O resultado desta verdadeira ojeriza à língua-mãe pode ser observado facilmente nas redações do ENEM onde alunos escrevem no meio do texto uma receita de macarrão instantâneo ou em reportagens, como a de hoje (01/04/13) no Jornal Nacional, que nos trazem a informação de que a maior parte dos candidatos a estágio acaba reprovada por total incompetência em relação à Língua Portuguesa. Fiquei surpresa ao saber que algumas empresas realizam uma prática bem antiga: o ditado. Através desta atividade vão eliminando os candidatos que cometem muitos erros de ortografia.
Muitos candidatos até possuem potencial técnico e/ou experiência para o cargo que pleiteiam, porém negligenciaram o estudo da língua e agora sofrem as consequências. Ninguém respeita um profissional que se expressa mal, seja verbalmente, seja por escrito.
Lamentável que o estudante não entenda a importância do ensino de sua língua-mãe. A importância que a língua exerce na ascensão social, na elaboração de um perfil profissional respeitável.
Quando o assunto é o texto escrito os problemas gerados pelo vocabulário pobre, pelos erros de ortografia e/ou concordância verbal/nominal trazem consequências desastrosas.
A importância que damos a nossa língua deve nascer dentro de nós desde os primeiros anos de escolaridade. Desde que começamos a decodificar as mensagens escritas. A partir daí cabe a nós desenvolver as competências linguísticas para falar e escrever bem. A escola possibilita momentos em que é possível desenvolver tais habilidades: As rodas de leitura, os empréstimos de livros, as produções textuais em dupla, coletivas ou individuais, as correções dos textos em dupla.
Além destas atividades algumas escolas desenvolvem um trabalho fascinante de produção de jornais escolares que transformam os alunos em verdadeiros jornalistas e mostram a verdadeira função da escrita. Outras escolas realizam correspondência interescolar, atividade riquíssima para o desenvolvimento da leitura e da escrita. Para que escrevemos? Escrevemos para transmitir uma mensagem a alguém. Essa mensagem precisa ter clareza, não pode conter erros de ortografia e precisa obedecer à estrutura do gênero textual escolhido. Não se deve colocar uma receita no meio de uma dissertação, por exemplo. Cada gênero textual tem sua estrutura, seus objetivos, seu público.
Porém, todas estas atividades e iniciativas inovadoras não alcançarão êxito se não houver o interesse por parte dos alunos na busca pelo aperfeiçoamento e na vontade de participar de todas elas.
A leitura é uma das chaves que abre as portas do domínio da língua escrita. Quando lemos muito, ‘fotografamos’ a forma gráfica das palavras. Isso reduz ao mínimo a incidência de erros. Não começamos a escrever sem erros por milagre, de uma hora para outra. Isto é uma construção muito gradativa. Vamos conquistando-a ao longo dos anos com muita leitura, revisão dos textos escritos, e principalmente, consulta diária a dicionários e gramáticas, procurando sanar as dúvidas que ainda persistam.
Finalizando, enquanto a frase: "Detesto Língua Portuguesa" continuar sendo lugar-comum entre os jovens, continuaremos a ler redações de baixíssimo nível no ENEM (e em outras avaliações de rede) e a assistir muitas reportagens onde candidatos a estagiários são descartados em virtude da ausência de competências essenciais para quem quer alcançar o cargo que sempre sonhou e a tão almejada independência financeira.
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